Combater o machismo dentro das empresas e órgãos públicos para evitar agressões morais no cotidiano: este é o mote da campanha Menos Rótulos, Mais Respeito. A iniciativa partiu de um grupo de procuradoras do Estado de Goiás, decididas a não aceitar mais episódios de discriminação envolvendo gênero.

“As mulheres são muito rotuladas no ambiente de trabalho e na sociedade. Se é bonita, desconfiam da sua inteligência e capacidade. Se está acima do peso,  chamam de gorda para ofender. Se é assertiva e defende seus pontos de vista, é mandona e briguenta. Se está de mau humor, como qualquer um poderia estar, ironizam insinuando tensão pré-menstrual. Poderia passar horas relatando experiências pessoais vividas ao longo de 13 anos de carreira”, salienta Poliana Julião.

 

Ela acrescenta: “Por mais qualificada e competente que seja, precisa empenhar esforço extraordinário para demonstrar o acerto de seus posicionamentos, a menos que seja ratificada por um homem”. Antes de ingressar na Procuradoria Geral do Estado de Goiás, Julião foi promotora do Ministério Público do Estado do Tocantins. Lá, já era alvo de provocações durante sessões de julgamento, sempre com intuito de tentar desconstruir sua competência, por ser mulher, de desempenhar um bom trabalho no Tribunal do Júri, ao argumento de que seria ambiente mais adequado aos homens.

Diante desta perspectiva, ao falarem abertamente entre si, essas mulheres perceberam a necessidade de se unirem para combaterem a discriminação de gênero também no ambiente institucional. A procuradora Carla Von Bentzen conta que alguns comentários soam como elogio, quando, na verdade, não são. “Já escutei de outro advogado, amigo de trabalho, que só tive tal recurso provido porque fiz sustentação oral e o desembargador me achou bonita”, relata.

Carla comenta ainda ter sido acusada de abandonar as duas filhas para assumir um cargo de chefia. “Como se eu não tivesse direito a querer um maior destaque na minha carreira e ser mãe ao mesmo tempo”, desabafa. Para ela, é preciso que campanhas como essa sejam constantes para que o mundo evolua e a conscientização chegue ao ponto em que as mulheres não sejam mais julgadas pelo gênero, e sim pela competência.

Segundo a procuradora Patrícia Junker, o que mais a marcou na concepção da campanha foi a proposta de discutir onde o machismo se esconde. “Eu penso que ele se manifesta em todos nós: homens e mulheres. Fazemos parte de uma estrutura em que condicionamentos sociais são impostos e acabam levando para uma sobreposição do homem em relação à mulher como algo que deveria ser aceito naturalmente”, avalia.

Importância social

Embora a iniciativa seja feminina, procuradores estaduais também manifestam apoio ao projeto. Para o presidente da Associação dos Procuradores do Estado de Goiás (Apeg), Tomaz Aquino, a campanha vem em boa hora. “A repetição de práticas equivocadas, por séculos, faz parecerem normais as atitudes desrespeitosas em razão do gênero. É nesse aspecto – o de nos lembrar sempre o quão prejudicial podem ser essas práticas equivocadas – é que está a utilidade da iniciativa”, destaca.

Por esta razão, de acordo com a procuradora Ariana Vieira, a campanha se destina à conscientização de mulheres e homens acerca desses comportamentos e conceitos. “Almejamos a desconstrução de todas as formas de diminuição da mulher, as quais ainda são reproduzidas, consciente e inconscientemente, em menor ou maior escala, e passam de geração em geração, perpetuando a dominação simbólica do machismo. Enfim, buscamos a efetividade do direito à igualdade e à liberdade das mulheres”, explica.

Bárbara Gigonzac, também procuradora do Estado e integrante do grupo organizador da campanha, analisa que essa constante divulgação do direito das mulheres ainda é a maior arma contra o machismo. “Cultura esta que mata, violenta e oprime as mulheres e está em absolutamente todas as esferas da nossa sociedade, podendo ser vista em todas as suas superfícies”, arremata.

As idealizadoras da campanha Menos Rótulos, Mais Respeito buscam o apoio do Supremo Tribunal Federal, do Conselho Nacional de Justiça, do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, de empresas, meios de comunicação e demais agentes públicos e privados que atuam por uma sociedade sem preconceitos.

Elas já têm a adesão da Associação dos Procuradores do Estado de Goiás, da Procuradoria-Geral do Estado de Goiás, da Seção de Goiás da Ordem dos Advogados do Brasil, do desembargador do Tribunal de Justiça de Goiás Luiz Cláudio Veiga Braga, do presidente da Caixa de Assistência dos Advogados de Goiás, Rodolfo Otávio Mota, da superintendente executiva da Mulher e Igualdade Racial da Secretaria Estadual da Mulher, do Desenvolvimento Social, da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos e do Trabalho, Gláucia Teodoro, e da secretária de Políticas para as Mulheres de Goiânia, Célia Valadão.

 

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